18 janeiro 2011

O 'Progresso'

Mais uma vez lá estava ela, alta, parada, quieta, tranqüila e atenta. Não dava a menor importância a quem passava, mas tinha medo, medo de que alguém chegasse e a tirasse do lugar.
Onde estava podia ver tudo, - ou quase tudo. 

O vento batia em suas partes, fazendo balançar no ritmo da brisa, em um balançar conjugal, quase despudoradamente se lhe fosse garantido esse estado.
Era um tanto “orgasmático” vê-la em sua prazerosa 'rotina'.
Colhia da terra seu próprio sustento, sem pedir nem roubar nada de ninguém, apenas fazendo jus ao seu poder autotrófico.

Infelizmente, sua beleza seria brutalmente trocada por algo tão diferente de sua matéria.
Estava para chegar ele: Faceiro, um tanto mais alto que ela, com grandes bocas e olhos, onde assim, tomou toda a atenção e preenchendo o 'espaço vazio' que ali continha. Era esbelto, porém monstruoso perante a beleza fixa da antiga atração.
Com isso, viu-se substituída e sentia que não duraria por muito tempo. Parecia prever sua morte, sua aniquilação. Imaginava seus membros sendo cortados. Cada um com uma dor superior a anterior. Até ser retirada totalmente de seu habitat.
E foi exatamente assim que se sucedeu: Suas “vísceras” espalhadas no chão. E sua vida chegando ao fim.

E ele, majestoso e cauteloso, ao olhar o genocídio de sua vizinha, sentia alívio e ao mesmo tempo, piedade, pois até gostava da presença dela que lhe garanti ausência de sol em certos períodos de seus dias. Estava para chegar mais um enorme amontoado de concreto. Que ocuparia o espaço do antigo inquilino.

Até que ela foi totalmente retirada de lá, e sem remorsos colocaram o novo “dono do pedaço”. E o mesmo aconteceu com suas congêneres. Elas saindo e eles chegando, até tomar todo o espaço.

Hoje elas fazem falta. E eles? Ahh, eles estão como sempre, só um pouco maiores e mais largos, parece que andam engordando, acho que é para satisfazer alguém.


Plácido Lima
2008

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