Não tenho nada, não sou ninguém...
Mas tu insistes em dizer que eu sou o homem da sua vida. Que me amas e nunca vais me esquecer.
Não sou bonito, muito menos gostoso. Sou magrelo, tenho narigão, pele manchada e olhos vermelhos.
Num tenho dinheiro, não tenho carro, não tenho casa.
Só tenho alguns farrapos velhos e uns livros mofados.
Sim, tenho coração, tenho sentimentos, tenho bondade.
Mas você não sentiu tudo isso de mim. Nem partes disso.
Você me viu na forma mais crua e nua possível: calado.
Sexo eu sei que fizemos, e foi bem feito - modéstia parte.
Sim, sou frio. Mas não nego que com você eu fui quente, gozei, gostei.
Mas se é isso que ainda queres em mim, deixa eu te falar uma coisa:
- Não sou o melhor nisso, melhores que eu por aí tem de sobra, por sinal são profissionais nisso.
Sou um bom homem, tenho meus valores. Tenho meus princípios.
Mas juntamente com eles, tenho muitos defeitos.
Não queria que você os conhecesse, seria cruel demais para quem diz me amar. Mas quem me deseja, terá que levar o pacote completo.
Portanto eu peço: vá, e dê a si mesmo uma chance de tentar conhecer um outro eu, com outro rosto - tão belo quanto.
E eu vou na minha, na intenção de conhecer o desconhecido.
Plácido Lima
2010
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